ATA DA VIGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 09.06.1998.

 


Aos nove dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Salvato Vila Verde Pires Trigo, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 183/97 (Processo nº 3107/97), de autoria do Vereador Pedro Américo Leal. Compuseram a MESA: o Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Fortunati, Prefeito Municipal em exercício; o Senhor Airton Vargas, Delegado do Ministério de Educação e Cultura, representando o Ministro de Educação; a Senhora Maria Izabel Machado, Consulesa-Geral de Portugal; o Senhor Rubem Becker, Reitor da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA; a Senhora Tânia Franco Carvalhal, Coordenadora do Subescritório da UNESCO no Rio Grande do Sul; o Coronel Irani Siqueira, representando o Comando Militar do Sul; o Major Adão Carlos Lemos, representando o Comando Geral da Brigada Militar; o Senhor Salvato Vila Verde Pires Trigo, Homenageado; o Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário da Casa. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Engenheiro Leandro Eugênio Becker e dos Professores Pedro Menegat, Nestor Luiz João Beck, Osmar Rufatto, Martim Carlos Warth, Johannes Gedrat, Marlene Schirmer, Hilda Gaveni Dias, Sirlei Dias Gomes, Ely Carlos Petry, Darlei Guenter, Cristófoli Caberlon, Argélia Feistler e Silvana Lehenbauer, respectivamente, Vice-Reitor, Pró-Reitor de Administração, Pró-Reitor Acadêmico, Pró-Reitor Acadêmico Adjunto, Diretor de Pós-Graduação e Pesquisa, Coordenador de Pós-Graduação Stricto Sensu Própria e Conveniada, Diretora da Coordenadoria de Pós-Graduação Própria, Diretora da Coordenadoria de Extensão, Diretora da Assessoria de Comunicação Social, Diretor da Assessoria de Planejamento, Prefeito do Campus da ULBRA-Canoas, Diretora do Centro de Saúde e Bem-Estar, Diretora do Centro de Ciências Econômicas, Jurídicas e Sociais, Diretora do Centro de Educação, Ciências Humanas e Letras da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA. Ainda, foi registrada a presença do Senhor Luiz Felipe Magalhães, ex-Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Em prosseguimento, concedeu a palavra ao Vereador Pedro Américo Leal que, em nome da Casa, afirmando ser o Senhor Salvato Vila Verde Pires Trigo um realizador, discorreu sobre a trajetória profissional do Homenageado, salientando a grande abrangência dessa trajetória e analisando seu significado para o desenvolvimento cultural de nossa sociedade. Após, foram interpretadas as músicas "Céu, Sol, Sul" e "Foi Deus" pelo Coral da ULBRA, sob a regência do Maestro Baldo Hoerlle. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Capelão Grazel, da Universidade Luterana do Brasil, que se pronunciou efetuando uma oração e invocando a benção divina para todos os integrantes deste Legislativo. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Pedro Américo Leal e o Prefeito José Fortunati a procederem à entrega, respectivamente, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Salvato Vila Verde Pires Trigo, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Riograndense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário. Do que eu, Reginaldo Pujol, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por aberto os trabalhos da presente Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Salvato Vila Verde Pires Trigo.

Convidamos a fazer parte da Mesa o nosso homenageado, Sr. Salvato Vila Verde Pires; o Prefeito em exercício, o Sr. José Fortunati; o Sr. representante do Ministro de Educação, Airton Vargas, Delegado do MEC; a Sra. Consulesa-Geral de Portugal, Maria Izabel Machado; o Reitor da Universidade Luterana do Brasil, Sr. Rubem Becker; a Sra. Coordenadora do Subescritório da UNESCO do Rio grande do Sul, Tânia Franco Carvalhal; representante do Comando Militar do Sul Cel. Irani Siqueira; representante do Comando-Geral da Brigada Militar, Major Adão Carlos Lemos.

Convidamos a todos para que, em pé, ouçamos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Com a palavra o proponente, Ver. Pedro Américo Leal, que falará em pelas Bancadas do PPB, PMDB, PT, PTB, PDT, PSB, PFL e PPS.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e os demais presentes.) “A ULBRA é campeã da Liga Nacional de 1998. Em tudo que ela se envolve, a ULBRA, dá certo. Não é por acaso.” Essa declaração foi feita não por mim, mas pelo Deputado Federal Adroaldo Streck, em seu comentário no artigo da página quatro do “Correio do Povo”, dia 2 de junho de 98. Mas isso é voz geral!

Não tenho encontrado Adroaldo Streck pelas estradas da vida e da política. De fato, não podemos destacar Salvato Trigo sem exaltar a ULBRA. É um binário. E com ela o seu Reitor Rubem Becker. São parecidos no paralelismo de vida estas duas personalidades. Ousados, desafiadores, com visão constante de futuro, inconformados com a rotina, rebeldes - dizem os rotineiros. A ULBRA intriga, se agita, é idéia nova, que a alguns incomoda. E Salvato Trigo? É um destemido - como lhe disse em meu gabinete, ontem - é um ousado! Homem singular, de carreira fulminante, responsável por modificações expressivas no processo educacional da Pátria Portuguesa. Um inovador de 50 anos, que dos Estorão, Ponte de Lima, Magnífico Reitor da Fundação e Universidade Fernando Pessoa, traz consigo a marca da formação eclesiástica, sempre benéfica, através de sua passagem, por quatro anos, no Seminário de Tamanca. Ele, ontem, me confiava e me confidenciava histórias a respeito de seu pai e do vigário da aldeia.

Era inevitável que esses dois homens se encontrassem no universo educacional, Salvato Trigo e Rubem Becker. Advindo daí uma explosão de idéias, surgindo em conseqüência o Projeto BRASIL-MERCOSUl. E o que vem a ser o projeto BRASIL-MERCOSUL?

Nas palavras do Ministério das Relações Exteriores do Brasil: é o maior programa de Pós-graduação conveniado da América Latina, oitavo do mundo. Resolveu o Conselho da ULBRA escolher, numa significativa gratidão, o Reitor Salvato Trigo, como primeiro doutor “Honoris Causa” das Universidade Luterana do Brasil. Estampado em sua capa de revista de pesquisa comemorativa de 25 anos, que tenho ali na minha Bancada, a sua fotografia, a fotografia de Salvato Trigo.

Salvato Trigo é um realizador, integrando inúmeras associações científicas e culturais da Europa, Estados Unidos, Brasil e Canadá e são tantos seus títulos conquistados, que, citados, nesta oportunidade, absorveria o tempo que temos para a explanação, não podemos fazer isso.

Suas obras voltadas para a educação e à cultura portuguesa, são por demais elucidativas e poupe-me em anunciá-las pelo mesmo motivo. São duas folhas de revistas, estudei a vida deste homem, durante o sábado e o domingo e confidenciei isso a ele. Fiquei perplexo. Como ele conseguiu com cinqüenta anos fazer tantas obras? Não param aí as realizações intelectuais desse homem, cuja mente empreendedora e irrequieta levou à Faculdade Fernando Pessoa em roteiro de intermináveis protocolos de cooperação com faculdades estrangeiras pelo mundo inteiro. Destaco apenas as de Leon, de Salamanca, de Sussex, de Santiago de Compostela e a Luterana do Brasil. Mas vamos encontrar um Centro Especializado de Pesquisa, a personalidade desbravadora e inconformada desse homem. Eu estudei isso, eu li com muito detalhe. Sabem o que ele fez? Este homem afoito, como foram seus ancestrais, desbravadores portugueses que nos descobriram, esses ousados navegadores, ele tem uma concepção diferente, investigando coisas atuais, sempre preocupado com o tempo real. O que é o tempo real? É o tempo que eu tenho para gastar. Urge que eu aproveite esse tempo, Salvato Trigo criou, na Universidade, o Centro Terapêutico Empresarial - chamo a atenção para isso, porque, de sua obra, foi o que mais me despertou atenção. O que vem a ser o Centro Terapêutico Empresarial? Um hospital de empresas. Interessante! Um hospital de empresas, uma idéia nova. Ele também fez o Centro de Recursos Multimediativos, o Centro de Línguas Estrangeiras, o Centro Integrante de Estudos das Minorias, detendo-se sobre os problemas sociais, raciais e étnicos, o Centro de Pesquisa de Opinião, observando os produtos das empresas, as marcas, as preferências, os porquês de tudo isso. Pois bem, isso tudo existe na Faculdade do Professor Salvato Trigo e não deixa de ser uma surpresa, pelo menos para mim, no Brasil. O Instituto Erasmus é uma Escola vocacionada para as áreas de Administração, Ciências Políticas e de Comportamento.

Vejam bem, estou fazendo telegramas de uma obra, estou resumindo! Até que esse ciclópico homem, num aglomerado de idéias e realizações, veio se unir à ULBRA num convênio técnico-científico na pretensão de criar novos cursos de graduação em Ciências Empresariais e de Saúde, amparado em Dona Manoela Trigo, nascido lá pela Ponte de Lima, junto com a ULBRA, como um Dom Quixote português, sonha com algo. Que castelo pretende conquistar? Que praças ele pretende investir?

Em lance atrevido, sonha dar às faculdades um corpo docente qualificado e titularizado, num Brasil pobre e, principalmente, deficientemente remunerado. Todos sabem o que os professores ganham no Brasil, não preciso citar números. Mormente, na área do Magistério. Tarefa trabalhosa a uma faculdade, com professores com dificuldades de obter, no regime atual, em que eles têm que trabalhar o título de Mestres e de Doutores. Nós possuímos, para poder julgar, os títulos de doutorado e mestrado em Psicologia Clínica. Sabemos das dificuldades por que passa um professor para poder obtê-los, passamos por essas dificuldades durante três anos. Como conciliar aulas e curso de mestrado e doutorado? Sobrevivência, luta pela vida, formação acadêmica e conquista de pós-graduação. Durante três anos, passando por jornadas de mestrado, com trabalhos, atingindo a paz doméstica para, finalmente, chegar às teses de doutorado, tornando-se, finalmente, um professor notável. Título de Mestre e de Doutor, só quem se lança em obtê-lo é que pode avaliar as dificuldades dessa verdadeira cruzada de conquista. É como se nos dispuséssemos a trocar o pneu furado do nosso carro em pleno deslocamento. Vou colocar o estepe mas não vou parar o carro. É possível? É como fazer o curso de mestrado e doutorado. Como um chefe de família pode fazê-lo?

Pois esse homem de cinqüenta anos planejou e implantou o projeto BRASIL-MERCOSUL, em parceria com a Universidade Luterana do Brasil. É uma sugestão! É uma resposta às dificuldades dos cursos de mestrado e doutorado. Consiste no desenvolvimento dos trabalhos, concurso de professores visitantes, de faculdades estrangeiras, acompanhados por professores brasileiros, doutorados ou mestrados, que assistem os alunos para que concluam suas teses sem abandonar suas aulas. O que dão em troca? Um sábado inteiro de trabalho; um sábado que seria de descanso se transforma em trabalho. Vejo que o Presidente da Comissão de Educação está presente, Ver. Eliseu Sabino, e está entendendo o que estou dizendo. É uma idéia ousada, trabalhosa para os dias atuais, mas tem que ser encarada e discutida. Como toda idéia nova ela choca, mas tem que ser examinada para poder, depois, ser opinada. Na observação dos professores e doutores da Fundação do CAPS, Dr. Fernando Antônio Novaes, da UNICAMP de São Paulo, e Francisco José Falcão, da PUC do Rio é algo que se deve pensar e não rejeitar a prior.

A ULBRA juntamente com Salvato Trigo apresenta um projeto de vanguarda, muito ao feitio dos dois reitores. Lá na frente, para resolver problemas do presente, mas livres do ranço do passado, que não se mexe, pelo contrário. Mas muito lá na frente onde o futuro já começou. É uma frase que a ULBRA gosta muito de usar: “O futuro já começou”. Vocês notaram? O futuro já começou! Digam comigo: o futuro já começou! Avizinha-se o milênio! Despertem! Encarem Salvato Trigo como uma novidade, um homem honrado, destemido. Ontem, disse para ele que é um homem atrevido, que apresenta uma idéia. Não podemos rejeitá-la. Vamos estudá-la e se merecer a nossa aprovação, admiti-la. Professor, Vossa Excelência foi por mim apontado como Cidadão Emérito de Porto Alegre porque é um homem ousado, destemido e que apresenta uma idéia nova para o Brasil que está em estudo, pela UNICAMP e PUC do Rio de Janeiro. Não sabemos os resultados ainda, não sabemos que soluções os professores darão, mas V. Exa. tem o destemor dos seus antepassados, daqueles homens que se jogavam nas águas e não sabiam aonde iriam parar, caravelas afora. Vamos bater em que porto? Não sei, mas vamos em frente. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar também as presenças dos Vereadores João Dib, Eliseu Sabino, João Carlos Nedel. Queremos agradecer a presença de todos os Senhores e Senhoras e registrar a presença do Vice-Reitor, Engº Leandro Eugênio Becker; Pró-Reitor de Administração, Prof. Pedro Menegat; Pró-Reitor Acadêmico Prof. Dr. Nestor Luiz João Beck; Pró-Reitor Acadêmico Adjunto, Prof. Osmar Rufatto; Diretor de Pós-Graduação e Pesquisa, Prof. Dr. Martim Carlos Warth; Coordenador de Pós-graduação” Stricto Sensu” Própria e Conveniada, Prof. Dr. JohannesGedrat; Diretora da Coordenação de Pós-Graduação Própria Profa. Dra. Marlene Schirmer; Diretora da Coordenadoria de Extensão, Profa. Hilda Gaveni Dias; Diretora da Assessoria de Comunicação Social Profa. Sirlei Dias Gomes; Diretor da Assessoria de Planejamento, Profa. Dr. Ely Carlos Petry; Prefeito do Campus da ULBRA - Canoas, Pastor Darlei Guenter; Diretora do Centro de Saúde e Bem-Estar, Iride Cristófoli Caberlon; Diretora do Centro de Ciências Econômicas, Jurídicas e Sociais, Loreni Argelia Feistler; Diretora do Centro de Educação, Ciências Humanas e Letras da ULBRA, Silvana Lehenbauer.

Muito obrigado pela presença de todos o que muito orgulha e honra esta Casa, que é a Casa do Povo de Porto Alegre. Vamos agora para a apresentação do Coral da ULBRA sob a regência do Maestro Baldo Hoerlle, cantando as músicas: “Céu, Sol, Sul” e “Foi Deus”.

Quero cumprimentar o meu amigo Dr. Luiz Felipe Magalhães, ex-Presidente da OAB, amigo desta Casa e que nos honra com sua presença.

 

(O Coral da ULBRA interpreta duas canções.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Coral da ULBRA é um espetáculo, nos mostrou um momento de arte que ficará marcado nesta Casa, porque não são constantes os momentos artísticos que vivemos aqui, a não ser a arte política que vivemos aqui constantemente. Mas essa arte pura, essa arte bonita como a que acabou de ser apresentada aqui é muito raro, e tenho certeza de que esse momento ficará registrado na história desta Casa.

Chamamos o Capelão Grazel da Universidade Luterana do Brasil que fará uma oração da tribuna.

 

O SR. CAPELÃO GRAZEL: Estimados amigos. Este Deus que foi cantado há pouco tem sua palavra no livro de Salmos, que faz uma referência a seus atributos, a sua qualidade. Disse assim o Rei David há mais de 3.000 anos ao falar deste Deus que foi cantado há pouco: “O Senhor é bondoso e misericordioso. É paciente e muito amoroso. Ele não está sempre repreendendo e a sua ira não dura para sempre. O Senhor não nos castiga como merecemos, nem paga de acordo com nossos pecados e maldades. Assim como o Céu está acima da Terra, assim é grande o seu amor por aqueles que o respeitam”. Esse Deus justo e de amor colocou o seu saudável trigo no caminho da ULBRA, e não foi um mero acaso, um mero acidente. Acredito que Deus tenha planos para o amigo-irmão. Hoje, nesta Casa, dizemos: Deus, obrigado pela coragem deste homem, e Deus o abençoe, o proteja para que o seu ideal e a sua causa continuam para o bem e a felicidade de muitos. E que este mesmo Deus abençoe, também, esta Casa do Povo de Porto Alegre. Amém.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Precisamos muito da benção de Deus, porque os trabalhos que são realizados aqui devem ir ao encontro das aspirações de toda a sociedade. E elas são tão importantes que estas palavras, ditas pelo Capelão, possam vir a inspirar todos os Vereadores, para que os trabalhos possam ser realizados com a máxima perfeição.

Solicito ao Ver. Pedro Américo Leal, proponente desta Sessão que faça a entrega do diploma ao homenageado, Sr. Salvato Vila Verde Pires Trigo.

 

(É feita a entrega do diploma.)

 

Solicito ao Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. José Fortunati, que faça a entrega da medalha ao nosso homenageado.

 

(É feita a entrega da medalha.)

 

A presença do Sr. Salvato Vila Verde Pires Trigo, nesta Casa, recebendo esta homenagem, está, realmente, marcando um dos grandes momentos vividos por nossa Câmara Municipal.

Nós nos deliciamos com as palavras do Ver. Pedro Américo Leal, que disse das qualidades do nosso homenageado, do trabalho realizado por ele e de tudo aquilo que a Universidade Luterana faz pelo ensino, pela educação, não apenas aqui no Brasil, mas agora fora das fronteiras do Brasil também. Apesar das palavras do Vereador e de toda a beleza da cerimônia até agora, ouvindo o Coral, assistindo à entrega do diploma e da medalha, tenho certeza que todos os que vieram até aqui estão esperando pelas palavras que vamos ouvir do nosso homenageado, o Sr. Salvato Vila Verde Pires Trigo. Tenho certeza absoluta de que suas palavras vão fazer com que esta Casa, mais uma vez, Ver. Pedro Américo Leal, guarde, em suas paredes, talvez um dos momentos mais altos na existência da nossa Câmara Municipal.

Com a palavra o nosso homenageado Sr. Salvato Vila Verde Pires Trigo

 

O SR. SALVATO VILA VERDE PIRES TRIGO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meus amigos da família ULBRA. Senhoras e Senhores. Este é um dia e um momento muito especial para mim. Entrar nesta augusta Câmara para ser honrado com o Título de Cidadão Honorário de Porto Alegre representa para mim, português das cinco partidas do Mundo, nascido de gente humilde de uma aldeia do Alto Ninho, convocar para este ato todos os meus antepassados, que das ilhas dos Açores como os Bittencourt, os Amaral, os Leal, os Silveira e tantos outros, ou das terras do Lima, como Cristóvão Pereira de Abreu, vieram nos séculos XVI e XVII colonizar à boa maneira romana estas paragens do Cone Sul da América Latina, por onde um conterrâneo meu, Fernão de Magalhães, passou neste mesmo século XVI na sua viagem de circunavegação, em demanda da Terra do Fogo, no extremo Sul desta continentalidade, onde Deus gerou uma das suas criaturas mais diletas - o Brasil.

Quis a amizade generosa do Sr. Delegado do Ministério da Educação deste Estado, Dr. Airton Santos Vargas, distinguir-me com uma proposta junto ao Ver. Pedro Américo Leal para que me honrassem com o Título de Cidadão desta Cidade, e quis esta augusta Câmara honrar-me com o voto unânime na concessão deste Título. A uns e outros só posso testemunhar o meu mais profundo agradecimento com a expressão singela de minha imensurável gratidão, dizendo-lhes muito obrigado.

Entrei nesta Câmara com um profundo sentimento de respeito pelo que esta instituição representa de valores democráticos, alicerçados na soberania popular que o voto consagra. V. Exas., Sr. Presidente e Srs. Vereadores, carregam a legitimidade democrática que o povo desta Cidade lhes transmitiu pelo seu voto, e honram o Vosso mandato, cuidando do bem para o progresso e para a qualidade de vida desta maravilhosa princesa do Guaíba por onde cheguei, pela primeira vez, no princípio dos anos 80, sendo governador deste Estado o Dr. Jair Soares. Aqui vim a convite do Instituto Cultural Português fazer uma conferência sobre a influência africana na cultura e na literatura brasileira. Fi-la no Museu Hipólito José da Costa, bem defronte a uma das instituições mais significativas desta Cidade e deste Estado, o “Correio do Povo”, jornal que desde então habituei-me a admirar e respeitar pelo seu intrépido gauchismo. Tive, então, ocasião de ser entrevistado para o Jornal e para a Rádio Guaíba, distinção que me calou fundo por tão insignificante ter sido a minha contribuição no ciclo de conferências que esse Instituto Cultural Português organizara. Conheci, nesse tempo, além do Governador Jair Soares com quem analisamos o futuro do Palácio dos Pestanas, então, em franca degradação, outros ilustres gaúchos e alguns conterrâneos meus que, nestas úberes terras do pampa, ganhavam e ganham honestamente as suas vidas.

Recordo-me, entre outros, do Dep. Fips Schneider com quem acertei uma possível germinação entre uma cidade do Rio Grande do Sul e minha Cidade natal de Ponte Lima, donde tinha saído o célebre tropeiro Cristovão Pereira de Abreu, o primeiro a rasgar, por terra, as ligações comerciais entre Minas Gerais e este Estado. Cristovão Pereira de Abreu era um nome que me cutucava na mais profunda da minha memória histórica, já que era descendente da célebre Casa dos Pereiras, cujo membro mais ilustre tinha sido, no século XIV, Nuno Álvares Pereira, intrépido chanceler do Reino de Portugal e comandante e chefe do exército português que derrotou, em 14 de agosto de 1385, os Espanhóis na Batalha de Aljubarta. Dediquei-me, de imediato, à mobilização de vontades políticas que pudessem concretizar esse desejo de reencontro entre as terras do Rio Grande e a nossa pátria comum. Agilizamos os contatos indispensáveis e conseguimos enviar das terras limianas um bloco de granito gravado com o escudo de Ponte Lima para colocar na rodovia de ligação entre Porto Alegre e Bom Jesus. Deixem-me recordar aqui, emocionado, o papel que teve em todo esse processo um patrício meu o Sr. João Martins de Lima, um português que ama tanto o Brasil como a sua terra natal. Um português, aliás, como todos os portugueses devem ser: gratos ao Brasil por ser uma imensa nação irmã de língua portuguesa, dando-nos orgulho por sermos os descendentes daqueles marinheiros e bandeirantes que, de 1500 a 1822, fizeram esse milagre maravilhoso, unindo do Piauí ao Chuí, diferentes paisagens físicas e humanas que são hoje a admiração de muitos e a inveja de alguns. Nestas recordações assistêmicas, enterneço-me sempre com as palavras de Joaquim Nabuco que sabiamente dizia: “Depois de ‘Os Lusíadas’, a maior obra dos portugueses foi o Brasil”.

Enterneço-me também quando lembro a conferência que fiz no Real Gabinete Português de Conferências do Rio de Janeiro, em 1988, conjuntamente com o então Ministro Oscar Correia, o Decreto Régio de Dom João VI, em1808, declarando o Brasil Reino Associado de Portugal e assumindo o título honroso de Dom João VI, Rei de Portugal, dos Algarves, e do Reino Unido do Brasil.

Enterneço-me do mesmo modo quando lembro de pessoas e de palavras generosas que me dirigiram os estudantes das universidades federais da Paraíba, de Pernambuco, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, da Fundação Universitária do Rio Grande, da Universidade Federal de Pelotas, da Universidade Católica de Salvador, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, da Universidade Estadual da Paraíba, da Fundação Kasper de São Paulo, da Câmara de Comércio de Minas Gerais, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, da Universidade do Vale dos Rios dos Sinos e da Universidade Luterana do Brasil.

Perdoem-me a longa enumeração, mas neste momento não poderia deixar de lembrar aqui a minha experiência em termos de contatos e de colaboração com o Brasil nos últimos vinte anos sempre no domínio da educação e do ensino superior.

Gostaria de dizer que sempre vim ao Brasil quando convidado, como professor universitário que fez toda a sua carreira e que obteve todos os títulos a que um universitário poderia aspirar sem transigências de nenhuma espécie, políticas ou científicas. Estabeleci, nesses vinte anos de cooperação com o Brasil, variadíssimas pontes de ligação entre universidades e universitários brasileiros e portugueses; trouxe vários colegas universitários ao Brasil abrindo as portas para que eles rasgassem os horizontes culturais e intelectuais ultrapassando a sua pequenez e o seu provincianismo. Alguns tiraram um bom proveito dessas oportunidades que lhes facultei, outros tornaram-se, por despeito e inveja, meus inimigos, continuando a vir ao Brasil e ao Rio Grande do Sul não para dignificarem o seu País, mas para se comportarem adulteradamente e denegrir a imagem de uma pessoa, que sou eu; que felizmente pode entrar de careca levantada em todo lado, sem receio dos julgamentos honestos dos seus pares e de quem o conheça.

Aqui, agora, posso dizer orgulhosamente que amo este País e este povo. Que amo profundamente estas terras gaúchas, nas quais tenho feito, felizmente, vários e ilustres amigos. Quero, aqui, garantir-lhes que nunca prejudiquei ninguém. Que tenho, graças a Deus, um apurado sentido de justiça e uma enorme tolerância e generosidade. Afianço-lhes que tudo o que fiz e tenho feito no Brasil e neste Estado, em particular, é feito sem querer tirar qualquer vantagem. Nunca ganhei, até hoje, um só real, um só dólar, um só cruzado ou um só cruzeiro - e conheci todas essas moedas com as diferentes ações de cooperação que tenho desenvolvido neste País e neste Estado. Mas, se não ganhei dinheiro e não vim, nem venho aqui, para ganhar dinheiro, é porque felizmente tenho no meu País mais do que o suficiente, ganho com o suor do meu rosto e da minha mulher - aqui presente -, ganhei, todavia, a amizade de pessoas de uma grandeza moral inigualável, como o meu irmão Rubem Becker, Reitor da Universidade Luterana do Brasil, que reconheço ou não os seus detratores, é um orgulho para este Estado, graças à sua qualidade intrínseca e a dimensão internacional que ganhou, seguramente uma das maiores do Brasil.

Permitam-me recordar, aqui, como conheci o Reitor Rubem Becker, e como construímos juntos o Projeto BRASIL-MERCOSUL. Devo confessar que quando, em 1990, participei, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, de um encontro destinado a professores de 1º e 2º graus, conjuntamente com ilustres colegas meus da Universidade de Lisboa, como a Profa. Maria Helena Mira Mateus, e da Universidade do Minho, de Coimbra, como o Prof. Victor Aguiar e Silva, depois de tantos seminários e cursos que havia dado, quer na UFRGS, quer na PUC, estava longe de imaginar que aqui existisse a ULBRA, em Canoas - de que nunca havia escutado sequer o nome. No encerramento desse encontro, em que me coube fazer uma aula sobre a análise do texto literário para alunos de 1º e 2º graus, com o anfiteatro da UNISINOS lotado, com mais de 450 pessoas, tive a emoção incontida de ser aplaudido em pé por professores chorando de contentamento pela utilidade que encontraram na minha prestação. Estava presente na sala o então Cônsul Geral de Portugal, em Porto Alegre, Dr. Emílio da Veiga Domingues, que teve a amabilidade de enviar procedimento verbal, acompanhado de recortes de jornais de São Leopoldo e Porto Alegre, ao Ministério dos Assuntos Exteriores de Portugal, dando conta do carinho e da emoção coletiva que, então, me envolveram e que foram testemunhadas também pela Profa. Marlene Schrimer da ULBRA, pelo Prof. Carlos Eduardo Ubatuba, então Diretor das Relações Internacionais da UNISINOS e hoje, ambos trabalhando na ULBRA o Projeto BRASIL-MERCOSUL.

Foi no final desse célebre encontro, de que ainda hoje guardo testemunhos escritos comoventes de seus participantes, que a Profa. Marlene Schrimer me falou da ULBRA e me sugeriu uma visita, na próxima vinda ao Rio Grande do Sul, o que não era nem raro nem difícil de acontecer, dados os contatos universitários que eu mantinha, quer na dita UNISINOS, quer na PUC, designadamente com o Irmão Élvo Clemente, com o Irmão Mainar e com o Irmão Avelino Martins; quer na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nomeadamente, com a Profa. Tânia Carvalhal - aqui presente, minha querida amiga que tive a honra de convidar a ir, pela primeira vez, a Portugal, e com quem eu mantenho até hoje afetuosa e profunda amizade -, ou com o Prof. Flávio Loureiro Chaves, que convidei a lecionar durante um semestre, em Portugal, na Escola Superior de Jornalismo do Porto, que fundei em 1982. Não me foi dado o tempo, porém, de regressar de novo a Porto Alegre, para outros compromissos universitários, porque recebi de supetão um chamado telefônico, por sugestão do Prof. Carlos Eduardo Ubatuba, transferido, entretanto, para a ULBRA, recebi um chamado telefônico do Reitor Rubem Becker que eu não conhecia e de quem eu nunca tinha escutado falar, não a convidar-me, mas a convocar-me naquele seu jeito alemão decidido para vir à ULBRA, a Universidade que ele fundou e que tem desenvolvido como projeto de referência e de excelência, para falarmos sobre o Projeto Brasil. Vim de coração aberto, sem quaisquer reservas mentais, sem outra intenção que não fosse ajudar, a por de pé um projeto de qualificação de recursos humanos das universidades brasileiras em geral, que eu conhecia bem e já, então, há mais de dez anos.

O resultado dessa convocação foi a criação da Fundação Luterana de Portugal e a organização de um Seminário Internacional na ULBRA, em outubro de 1991, para apresentarmos o Projeto Brasil na presença de autoridades acadêmicas e políticas brasileiras e do Estado do Rio Grande do Sul, assim como de universidades estrangeiras por mim convidadas para o Projeto: da Espanha, da França, da Inglaterra e de Portugal.

Passaram, entretanto, sete anos do início desse Projeto de cooperação universitária e internacional, verdadeiro “ovo de Colombo” de que podemos orgulhar-nos na Fundação Luterana de Portugal, perante 52 programas de doutorado implantados e de mais de 1.500 alunos deles beneficiando. Apesar das incompreensões oficiais e das invejas particulares com que têm distinguido este Projeto de extraordinário alcance político, social, cultural e acadêmico, as universidades do exterior, responsáveis pela lecionação, pela avaliação das teses e pela concessão do grau, têm trabalhado com honestidade intelectual, com incontornável ética profissional e com grande empenhamento humano para que os objetivos do Projeto BRASIL-MERCOSUL sejam atingidos, como têm estado a ser.

Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Senhores convidados, minhas senhoras, meus senhores, se foi o Projeto BRASIL-MERCOSUL que me qualificou para a atribuição deste tão honroso Título, devo confessar-lhes que não o fiz com esse propósito. Aliás, nada do que tenho feito na vida de universitário e de agente de educação, com mais de 30 anos de experiência, teve em vista qualquer título ou recompensa. Basta-me reconhecer que a minha existência faz algum sentido, trabalhando para a educação e para o bem-estar dos outros, para eu me sentir agradecido, em primeiro lugar, a Deus pelos dons que me concedeu e pelo caráter que inscreveu em mim para servir os homens, combatendo com a minha ação, para aniquilar aquela famigerada máxima de Plauto “Homo lupus homini”, (o homem é lobo do homem). Esse caráter que há de me acompanhar até o fim dos meus dias, com absoluta tranqüilidade de consciência, sem ter jamais inveja de ninguém.

A inveja, meus senhores, é a arma dos medíocres, daqueles que nunca fizeram nada pelos outros, sem primeiro pensarem em si mesmos. Eu sei que esta arma dos medíocres, a inveja, não é apanágio únicos dos portugueses, mas sou obrigado, aqui e agora, a reconhecer que existe, entre o meu povo, demasiada e antiga inveja que tem vindo a ser refinada desde o tempo em que o nosso e vosso grande poeta, Luís de Camões, lá no século XVI, nesse poema maior “Os Lusíadas”, vituperava já os traidores, que entregaram Viriato e Sertório, chefes dos meus antepassados lusitanos, aos romanos, assim como todos aqueles que denigrem as obras dos outros por não serem capazes de as fazer, vertendo, por isso, o seu inesgotável rio de veneno e de inveja.

Essa inveja, medíocre e mesquinha, ainda normalmente associada à cobardia que se revela habitualmente pela intriga, pela calúnia e pela difamação anônima, escondendo-se, porém, sob epítetos tão imbecis quão despropositados, como “Grupo Ético” e outras denominações, que só agravam a pequenez moral e intelectual de criaturas malévolas, que pensam poder escapar ao julgamento de Deus enquanto se divertem perigosamente a emitir juízos sobre quem não conhecem e acerca do que ignoram. São os anões éticos, morais e intelectuais que todas as sociedades humanas têm de suportar para, na dialética cultural, justificarem os desígnios do sagrado que nela convivem com o profano, como diria Mircea Eliade.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Convidados, minhas Senhoras e meus Senhores. Meu nome é Salvato Trigo. Não é nem Enéias, nem Helena de Tróia. Nasci no seio de uma família muito humilde, mas muito honrada e honesta. Meu pai era ferreiro e ensinou-me, desde os sete anos de idade, o valor do trabalho, colocando-me a acionar o fole de sua forja logo que chegava da escola de 1º grau, no final do almoço até o cair do dia. Criança ainda, com bíceps e músculos infantis malformados, amassava, com o suor do meu rosto, o pão que comia, feito de milho e de farelo, com que parcamente nos alimentávamos eu e mais dois irmãos mais velhos. Fui o melhor aluno da escola da minha aldeia (colônia), tendo sido o primeiro filho da terra a estudar para além do 1º grau, obtendo uma formação superior, primeiro com o bacharelato em Filologia Românica, depois com a licenciatura em Lingüística Românica e, finalmente, com o doutoramento em Literaturas de Expressão Portuguesa, que obtive em março de 1981. Estudei num seminário católico de Braga, por, na época, ser este o único jeito para uma criança pobre estudar o segundo grau. Desde os dezesseis anos que me sustento sozinho, tendo vivido extraordinárias experiências de vida, primeiro em Angola, de 1965 a 1970; depois na África do Sul, de 1970 a 1973; e de novo em Angola, desde 1973 a janeiro de 1976.

Fui em Angola professor de alguns dos atuais responsáveis políticos daquele país, designadamente ministros com quem mantenho profundos laços de cortesia. Aos vinte anos era diretor de um colégio de segundo grau em Luanda, o Colégio Santo Condestável e professor, aos vinte e um anos, do Colégio Viriato, onde tive a felicidade de encontrar como aluna a mulher que me acompanha e ajuda há quase vinte oito anos. Em Nova Lisboa, atual Huambo, cidade que o meu conterrâneo General Norton de Matos fundara em 1912 para ser capital do império Luso-Brasileiro, que o vosso Presidente da República, Correia Alves, filho de um português também conterrâneo nosso, não aceitou, ensinei por cinco anos e colaborei ativamente no jornal “O Planalto”, onde publiquei crônicas que, ainda hoje, me orgulham e reputo de atuais.

Quando, em 1970, parti para a África do Sul com a minha mulher, esperavam-me, aí mais desafios que não enjeitei. Criei e fui responsável pela rede de ensino do Português nas escolas comunitárias daquele país. Revitalizei e dirigi a redação do jornal da comunidade portuguesa local “O Século de Joanesburgo”, fui pastor da Igreja Reformada Holandesa, durante quase dois anos, atendendo as comunidades de Juanesburgo, Pretória, Vandelbylpark e Blumefontain, tendo sido responsável pela legalização de mais de oito mil portugueses ilegais residentes naquele país.

Em 1973, regressei a Angola já com a nossa filha Nadine com dois anos e o nosso filho Salvato Miguel, concebido e em gestação para nascer em Luanda, em 1974. Estudei e ensinei na Universidade de Luanda, tendo sido o último diretor da Faculdade de Letras do Labango, antes que a guerra civil angolana a tivesse encerrado.

Em 1976, já no Porto, retornado à força com a família, por virtude da guerra, fui admitido na Faculdade de Letras do Porto, onde, no ano seguinte, ganhei as eleições para a primeira gestão democrática da escola, após o período revolucionário, criado com a Revolução dos Cravos de 25 de abril.

Após o doutoramento, em 1981, tentei contribuir para a modernização da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (universidade pública, fundada em 1911), propondo a criação de uma licenciatura em Ciências da Comunicação com a habilitação em Jornalismo, que, então, não tinha formação superior em Portugal. Os meus colegas universitários rejeitaram a proposta, com o argumento supino de que o Jornalismo não tinha estatuto científico para ser ensinado na Universidade. Um desses colegas que trouxe, anos mais tarde, a terras gaúchas, e a quem promovi profissional e socialmente, tem denegrido fortemente o meu nome e a instituição que eu criei, a Universidade Fernando Pessoa.

A Universidade Fernando Pessoa nasceu porque a universidade pública portuguesa, onde sempre fui professor, não quis renovar-se, no momento em que eu, seguramente um dos mais internacionais dos seus professores, já com experiência de ensino, nomeadamente em universidades americanas, canadenses, francesas, espanholas e brasileiras, queria dar um contributo para a sua modernização, ajudando-a a sair do marasmo pedagógico e científico em que se encontrava e em que, de certo modo, ainda hoje, persiste.

Não vou fazer aqui a história nem o elogio da Universidade Fernando Pessoa. Alguns dos presentes conhecem-na. Direi apenas que é uma Universidade que tem hoje em Portugal um lugar de destaque no ensino superior particular e cooperativo, afirmando-se, de ano para ano, como um projeto educacional alternativo ao Estado e de excelência. Mantém a Universidade Fernando Pessoa cooperação internacional, como já disse o Sr. Ver. Pedro Américo Leal, desde logo com o Brasil, designadamente com a ULBRA, sua universidade irmã, e com a USP, a UNICAMP, a UNESP, e outras, universidades francesas, inglesas, italianas, alemãs, espanholas, canadenses, americanas, de quem recebe alunos e professores, com os quais desenvolve também projetos de investigação e de pesquisa conjuntos.

Ela está ali, na Cidade do Porto, onde nasceu Portugal, e em Ponte de Lima, de portas abertas para receber todos aqueles que, honestamente, desejam conhecê-la e avaliá-la. Nada temos a esconder. Não devemos nada a ninguém, nem monetária nem politicamente. O que temos e o que somos têm sido conquistado a golpes de ousadia e de coragem que a força da nossa razão e a honestidade dos nossos propósitos não têm permitido que esmoreçam. Temos seguido e continuaremos a seguir na vida o lema que Fernando Pessoa, nosso patrono, nos legou: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” e “Tudo o que faças supremamente o faz.”.

O nosso trabalho devotado, honesto e eticamente irrepreensível que temos levado a cabo na educação do nosso país, tem-nos trazido algum reconhecimento público que compensa o nosso sofrimento pelas calúnias de que temos sido alvo. Desde logo, o reconhecimento do governo francês, que nos atribuiu a condecoração de “Cavaleiro das Palmas Acadêmicas”, que nos foi outorgada pelo então Ministro da Educação da França e hoje seu Primeiro-Ministro, Sr. Leonel Jospin. Depois, da Sociedade Brasileira da Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, concedendo-nos a medalha de mérito. Seguidamente, em 1985, do Ex-Presidente da República Portuguesa, Dr. Mário Soares, escolhendo-nos para seu mandatário no Distrito Eleitoral de Viena do Castelo, a que se seguiu novo convite para membro da sua Comissão de Honra na reeleição de 1990. Em 1993, fui convidado, sufragado e eleito Presidente da Assembléia Municipal de Ponte de Lima, constituída por 103 Deputados Municipais, cargo que ocupei por quatro anos, e a que não quis recandidatar-me. Em 1995, fui, novamente, escolhido para mandatário distrital do atual Presidente da República de Portugal, Dr. Jorge Sampaio, a convite do qual estaria amanhã mesmo, em Lisboa, nas comemorações solenes do Dia de Portugal, não fora estar, hoje, aqui, em tão honrosa e dignificante, para mim, cerimônia.

Finalmente, fui eleito o primeiro Presidente da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado, como reconhecimento das outras instituições de ensino superior particular pela liderança e pela qualidade do projeto da Universidade Fernando Pessoa.

Eis, Sr. Presidente, Sr. Prefeito, Srs. Vereadores, Senhores convidados, minhas Senhoras e meus Senhores, um retrato, a traços muito largos, de corpo inteiro, deste português minhoto, daqueles que preferem quebrar do que vergar, que ama desinteressadamente esta Cidade, este Estado e esta Nação Brasileira, onde tantos dos seus antepassados deixaram os ossos para fertilizar este imenso País, que, a golpes de bravura e de aventura, ajudaram a unir e a erigir como povo criativo, admirado e invejado como são todos os povos que, como o Brasil, levantam, garbosamente, a bandeira do seu futuro promissor.

Agradeço, com inexcedível emoção ao Sr. Ver. Pedro Américo Leal por sua proposta para este título para mim tão importante.

Agradeço aos restantes Senhores Vereadores por terem aprovado, por unanimidade, a proposta. Agradeço a todos os meus amigos que aqui estão prestigiando-me com a sua presença. Desculpem que eu realce, em particular, o Reitor Becker e a sua família, bem como a minha família da ULBRA e, igualmente, o Sr. Dr. Airton Vargas e esposa. Agradeço à Sra. Cônsul de Portugal em Porto Alegre por sua presença tão reconfortante. Agradeço, naturalmente, à minha mulher por sempre estar ao meu lado nestes momentos de glória para mim, que são também seus, pelo muito que comigo tem lutado contra todos os maus-caráteres, com nome ou sem ele, que nos dedicam ignóbil ódio e malquerença.

Fica aqui, nesta augusta Câmara, a certeza de que continuaremos iguais a nós próprios, trabalhando, com denodo e desinteressadamente, para estreitar, cada vez mais, os laços de cooperação e de amizade entre Portugal e o Brasil, porque, como dizia o nosso poeta Afonso Lopes Vieira, “estamos condenados a amar-nos e a odiar-nos na mesma língua”.

Da minha parte, não contem com o ódio, mesmo aqueles inimigos anônimos que, reunidos ou não no Grupo Ético, nome de fantasia extremamente impróprio para quem, tenho a certeza, não sabe o que é ética, quiseram difamar-me perante V. Exas., Srs. Vereadores.

Aqui encomendo, pois, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Deus, os meus amigos, para que cuide bem deles e os proteja, compensando-os da minha falta de tempo para os prestigiar tanto quanto desejaria. Se Deus me atender, como espero que faça, continuarei a ter tempo para tratar, eu próprio, dos meus inimigos, que me darão incentivo para realizar alguns dos meus sonhos e amar aqueles que merecem acompanhar-me até o futuro.

Termino, pronunciando, com indisfarçável orgulho e emoção: sou, felizmente, Cidadão de Porto Alegre. Tudo farei, até o fim dos meus dias, para merecer tão honrosa distinção. Bem hajam todos!

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Como se não bastasse todas essas palavras ao nosso homenageado, ainda restaria toda confiança e todo cuidado que esta Casa tem no Ver. Pedro Américo Leal, e que ele tem quando ele escolhe os seus temas para serem discutidos aqui nesta Casa, e as pessoas que ele traz aqui para serem homenageadas.

Nós temos sempre a certeza absoluta que todas as pessoas que até hoje foram escolhidas pelo Ver. Pedro Américo Leal para virem até esta Casa e para receberem as homenagem foram sempre pessoas muito dignas e que muito honram esta Casa com suas presenças. Como acontece neste exato instante quando estamos aqui fazendo esta homenagem ao Sr. Salvato Vila Verde Pires Trigo, que recebeu o Título de Cidadão de Porto Alegre e também a Medalha de Porto Alegre. Pode ter a certeza absoluta de que agora o Senhor faz parte, sem saber de um Conselho muito especial, que é o Conselho dos Cidadãos de Porto Alegre. O Conselho dos Cidadãos de Porto Alegre foi criado exatamente porque ele reúne as mentes mais privilegiadas que temos em toda a nossa Cidade. Vamos, agora, neste encerramento, dar a palavra por alguns instantes ao Ver. Pedro Américo Leal.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Ia acrescentar um termo militar, que o senhor, agora, está arregimentado!

 

O SR. PRESIDENTE: Agora, todos em pé, para ouvirmos o Hino Rio-grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste final de Sessão também quero registrar a presença do Vice-Presidente da Casa Ver. Clovis Ilgenfritz.

Agradeço a presença de todos os Senhores e Senhoras e dizer que esta Casa se sente engrandecida com a presença de todos, e, principalmente com a presença do nosso homenageado que hoje abrilhanta esta grande galeria dos grandes homens que temos em nossa Cidade com o Título de Cidadão Porto-alegrense.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h45min.)

 

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